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PC cita que histórico violento impede presos de "delatarem" grupo de Arcanjo

PC cita que histórico violento impede presos de "delatarem" grupo de Arcanjo

Alguns presos ligados a Frederico Coutinho têm entregado esquema de jogo do bicho

RODIVALDO RIBEIRO 
Da Redação/FolhaMax

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Responsáveis pela condução das investigações que debelaram o jogo do bicho em Mato Grosso, os delegados Luís Henrique Damasceno e Flávio Stringueta, do Grupo de Combate ao Crime Organizado (GCCO), disseram que os asseclas de João Arcanjo Ribeiro não falam nada em oitiva porque têm medo do histórico de violência do comendador. Já alguns presos ligados a Frederico Muller Coutinho, o “Dom”, entregam seus crimes e funções. 

Foi o caso do Edson Nobuo Yabumoto, que admitiu nesta quarta-feira (05) ser o arrecadador da empresa Ello/FMC na região de Tangará da Serra (distante 242 quilômetros de Cuiabá). Além dele, três pessoas foram ouvidas hoje no âmbito da Operação Mantus, cujos depoimentos e o inquérito serão concluídos nesta sexta-feira (07) e enviados ao Grupo  de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público.

“Ele confessou que era arrecadador na região do entorno de Tangará da Serra e confirmou que fazia parte da organização chefiada pelo Frederico Muller Coutinho”, disse o delegado Flávio Stringueta, referindo-se a Nobuo Yabumoto. Todavia, o líder do grupo, Frederico, e seu primo, Eduardo, ficaram em silêncio.

Já o delegado Damasceno acredita que o histórico da organização liderada por João Arcanjo influencia na atitude de seus membros - até os de menor destaque - de permanecer em silêncio. Arcanjo é acusado de utilizar de violência contra seus concorrentes ou àqueles que se viram contra sua organização.  “A gente acredita que pelo histórico do Grupo Colibri, os integrantes tenham maior receio”, continuou o delegado Luís Henrique Damasceno.

Nesta quinta-feira (06), inclusive, será ouvido João Arcanjo Ribeiro. Ele está preso na Penitenciária Central do Estado (PCE).

OPERAÇÃO MANTUS

A Operação Mantus foi deflagrada pela Delegacia Especializada de Fazenda e Crimes Contra a Administração Pública (Defaz) e pela GCCO para o cumprimento de 63 mandados expedidos pelo juiz da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Jorge Luiz Tadeu. Os investigadores perceberam esquemas de exploração do jogo do bicho, que é ilegal, movimentando cerca de R$ 20 milhões somente em um ano e apenas em suas contas bancárias.

Essas ordens judiciais foram cumpridas em Cuiabá, Várzea Grande e em mais cinco cidades do interior do Estado. As investigações tiveram início em agosto de 2017 e conseguiram revelar duas organizações criminosas que comandam o jogo do bicho em Mato Grosso.

Uma dessas organizações seria a Colibri, liderada pelo ex-comendador João Arcanjo Ribeiro, e o genro, Giovanni Zem Rodrigues. A outra, a Ello/FMC, pertenceria a Frederico Müller Coutinho. Arcanjo sempre foi conhecido como "O Comendador" e é acusado de liderar o crime organizado em Mato Grosso durante as décadas de 1980 e 1990 e sonegação de milhões de reais em impostos, além de assassinatos, extorsão e diversos outros crimes, entre os quais, o de ser o mandante da execução do empresário Sávio Brandão no dia 30 de setembro de 2002.

Na Operação Mantus policiais civis cumpriram 63 decisões judiciais, sendo 33 mandados de prisão e 30 de busca e apreensão desde a quinta-feira (30).

Suspeitos foram presos em Cuiabá, Várzea Grande, Tangará da Serra (241 km de Cuiabá), Sinop (479 km de Cuiabá), Sorriso (397 km de Cuiabá), Campo Verde (141 km de Cuiabá), Rondonópolis (217 km de Cuiabá) e São Paulo. Frederico Müller Coutinho  e João Arcanjo Ribeiro são apontados como os chefes máximos das duas organizações criminosas que disputavam clientes do jogo do bicho em MT.

Na casa de Arcanjo no bairro Boa Esperança, em Cuiabá, os policiais apreenderam mais de R$ 200 mil, relógios importados e documentos que, em tese, comprovam seu envolvimento direto na organização criminosa. Já na casa de Coutinho, a polícia apreendeu pouco mais de R$ 1,7 mil, dinheiro este que seria usado para despesas cotidianas, e relógios importados.

Para os policiais, é verdadeira a lenda urbana corrente nas ruas, de que João Arcanjo Ribeiro jamais deixou de controlar o jogo do bicho, mesmo quando esteve preso no Uruguai e depois no Brasil. No período de 15 anos em que ficou trancafiado, quem cuidaria dos negócios seria o genro Giovanni, mas o Comendador teria retomado a liderança da jogatina ainda no início do ano, quando foi solto. Agora, à moda máfia italiana: dividindo a liderança em família.

Coutinho, aliás, seria fã confesso de Arcanjo, de quem teria escolhido seguir os passos criminosos até mesmo na hora de obter título semelhante de comenda, ainda que outorgada pela Câmara Municipal e não pela Assembleia Legislativa, como no caso do seu inspirador. Por meio da obsessão pelo ídolo, Dom Frederico teria conseguido criar organização mais articulada e melhor estruturada.

“A organização do Frederico, nos últimos dois anos, a gente tem certeza que atuava e ela estava atuando no mesmo sentido da organização do Arcanjo. Como eu disse anteriormente, até o título de comendador, o senhor Frederico Coutinho buscou conquistar ali. Hoje nós podemos dizer que foram presos dois comendadores”, afirmou o delegado Damasceno em coletiva.

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