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MT é campeão em câncer infantojuvenil e má formação fetal por causa dos agrotóxicos, alerta pesquisador

MT é campeão em câncer infantojuvenil e má formação fetal por causa dos agrotóxicos, alerta pesquisador

O médico, professor e pesquisador do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador (Neast) da Universidade Federal de Mato Grosso, Wanderlei Pignati, participou de uma Audiência Pública realizada no Auditório da OAB, em Cuiabá no último dia 12 de junho, para debater a utilização de agrotóxicos nas lavouras de Mato Grosso. O pesquisador alerta para os altos índices de câncer infantojuvenil e má formação fetal em gestantes que residem próximo às áreas onde os produtos são pulverizados. Um seminário deve ser realizados nos próximos dias para continuar o debate.

Pignati está à frente de diversas pesquisas que relacionam problemas graves de saúde em regiões onde se utiliza agrotóxicos em grandes quantidades. De acordo com o pesquisador, a contaminação se da através da água, dos alimentos, do solo, ar, chuva, flora, fauna e demais seres vivos que habitam no ambiente.

Em suas pesquisas, Pignati constatou a presença de agrotóxicos no leite materno e resíduos de glifosato nos bebedouros de escolas em cidades onde a agricultura produz alimentos em grande escala.

Os problemas agudos como Gatro-intestinais, dérmicos, hepáticos, renais, neurológicos, pulmonares, deficiências no sistema imunológico, quadros clínicos psiquiátricos foram identificados em crianças menores de cinco anos de idade no período de 2004 a 2009 no município de Lucas do Rio Verde (334 Km de Cuiabá), local onde a pulverização de agrotóxicos nas lavouras é constante por ser um dos maiores polos de agricultura no Estado.

Foi registrado um crescimento no número de internação ambulatorial para a utilização de nebulização no período de outubro a janeiro, onde a pulverização é maior para a safra da soja e em fevereiro, onde a pulverização era intensa devido a safra de milho e algodão.

Ainda de acordo com o estudo, crianças pequenas que residem nessas áreas, que permanecem no chão ou solo e colocam as mãos e objetos na boca com maior frequência, podem estar mais sujeitas à exposição. Além disso, os pais expostos de forma ocupacional podem trazer agrotóxicos para casa através das roupas e equipamentos, aumentando o risco de adoecimento por câncer dos filhos e das mães durante a gestação.

A pesquisadora integrante do grupo de pesquisa de Pignati, Débora Calheiros, trabalha principalmente com a questão da contaminação de peixes e da água. Segundo ela, o estudo epidemiológico deve ser levado a sério pois o risco já está comprovado através dos inumes estudos que relacionam as doenças com os agrotóxicos. “A questão principal que devemos pensar é que onde tem maior produção em estudos epidemiológicos com dados do Ministério da Saúde, é onde tem maior incidência de câncer infantojuvenil, de má formação e de outros problemas de saúde.

Então é uma questão simples, isso tem que ser avaliado e tem que ser estudado com responsabilidade por todos, é um absurdo que ninguém está colocando isso em jogo. A saúde das pessoas e das suas famílias que moram em Sorriso, em Diamantino, Tangará e Lucas do Rio Verde estão em risco. A gente ta tomando veneno na água potável”, afirma.

O deputado estadual Lúdio Cabral (PT), esteve presente na audiência e reafirmou que o assunto precisa ser debatido até que uma solução possa ser encontrada. “Os estudos científicos de saúde pública precisam ser respeitados. Porque não da pra negar a existência de problemas que são reais, como é real a associação dos agrotóxicos e o aumento da prevalência de doenças. Nós temos que a partir disso para pensar de que forma nós temos que enfrentar esse problema”, diz.

“Quando os estudos epidemiológicos começaram a apresentar a associação entre cigarro e câncer de pulmão, a primeira reação foi a da negação e o questionamento do estudo cientifico. Nós não temos que esperar daqui 20, 30 anos, quando não se tiver mais o que fazer, para aí sim pensar em como reduzir os impactos dos agrotóxicos no meio ambiente e na saúde humana. Isso não significa se colocar contrario ao agronegócio, contrario a produção de alimentos, produção de soja e de algodão. Significa dizer que há um problema real que precisa ser enfrentado por vários caminhos e é esses caminhos que nós temos que discutir de forma exaustiva”, afirma o parlamentar.

Lúdio ressalta que o interesse maior é da população e não das empresas que  produzem alimentos em grande escala. “A industria do veneno não está preocupada com ninguém, ela só está preocupada em ganhar e por isso ela vai investir no que der lucro pra ela. Reduzir o consumo de agrotóxico e fazer um controle biológico é um caminho que o Estado deve pensar para estimular essa linha de atuação. Se a questão é que as pessoas precisam de alimentos então vamos pensar em uma outra forma de produzir.

Lúdio é autor de dois projetos de lei que versam sobre o uso de agrotóxicos em Mato Grosso que pretende proibir a pulverização do produto e a isenção fiscal dessas substâncias no Estado. Em abril desse ano, o Ministério da Saúde divulgou que 30 cidades de MT, incluindo Cuiabá, têm água contaminada por um “coquetel de agrotóxicos”. Os outros 111 municípios não foram submetidos aos testes por falta de recursos financeiros das Prefeituras.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de mato Grosso (Aprosoja/MT), Antônio Galvan, discorda que a culpa dos altos índices de doenças seja do agronegócio. “Essa situação da água contaminada, será que ela está contaminada só com agrotóxico? Então porque usar agro, vamos usar só tóxico, esse tóxico vem da onde? Eu sei que qualquer água entra em uma cidade limpa e ela sai do outro lado extremamente poluída. O problema hoje da contaminação está dentro da cidade, é produzida pelo centro urbano”, diz.

Galvan ainda afirma que o mercado de alimentos orgânicos é instável e que não há possibilidade de produção em grande escala. “Eu conheço gente que desistiu de plantar orgânico em Tangará da Serra por causa de mão de obra, o funcionário não fazia a prática na hora exata e o orgânico não aceita nada de errado. Se o clima não te ajudar você perde a lavoura. Usamos os defensivos porque é a única alternativa que temos, se não existisse o defensivo estaríamos desmatando muito mais terras”, afirma.

Segundo ele todas as culturas devem ser somadas na tentativa de diminuir o uso de produto químico em qualquer lugar. “Eu não vou me sustentar e não vou fazer um produto orgânico porque eu coloco em risco tudo o que eu tenho. Hoje os alimentos orgânicos são um nicho de mercado, se todo mundo começar a fazer onde que você vai colocar o produto? Nós vamos conseguir produzir orgânico para o mundo? Então é isso que nós temos que olhar, eu não sou contra quem quer fazer orgânico ou qualquer produção alternativa, mas tem muita gente vendendo gato por lebre. Vocês sabem que hoje o brasileiro é maquiavélico pra tudo”, finaliza.

A OAB informou que em breve fará um seminário para que o assunto seja debatido novamente.

Agrotóxicos

A palavra ‘agrotóxico’ passou a ser utilizada para denominar os venenos agrícolas no Brasil colocando em evidência a toxicidade desses produtos ao meio ambiente e à saúde humana. O termo é definido pela Lei Federal n.º 7.802 de 11 de julho de 1989, regulamentada pelo Decreto 98.816 e, posteriormente, pelo Decreto n.º 4.074, de 4 de janeiro de 2002.

Os agrotóxicos são utilizados durante a produção, armazenamento, transporte, distribuição e transformação de produtos agrícolas e seus derivados. Entre os agrotóxicos também estão os desfolhantes, dessecantes e as substâncias reguladoras do crescimento vegetal ou fitorreguladores. (Por: Olhar Direto)

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