Alunos de Escola Técnica Estadual estudam veneno de sapo para uso em tratamentos de doenças crônicas
Data de Publicação: 8 de outubro de 2023 16:19:00 A coordenadora do projeto aponta que a substância apresenta potencial no combate de doenças crônicas inflamatórias
Marcos Salesse e Paula Shaira | Seciteci-MT
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Os alunos utilizam um dos laboratórios presentes na Escola Técnica Estadual para realizar os testes. - Foto por: Marcos Salesse | Seciteci-MT |
Uma pesquisa desenvolvida por estudantes da Escola Técnica Estadual de Sinop (480 km de Cuiabá) é mais um passo na busca por tratamentos para doenças crônicas inflamatórias. Utilizando veneno de sapos, os estudos buscam minimizar os efeitos tóxicos e possibilitar a utilização da substância na fabricação de medicamentos.
Coordenada pela professora Lucinéia Reuse Albiero, a pesquisa foi iniciada em janeiro deste ano, durante as aulas do curso Técnico em Enfermagem. Os estudos foram realizados em sapos das espécies Rhinella margaritifera, Rhinella marina e Rhaebo guttatus, encontrados na fauna mato-grossense.
A mestre em Ciências enfatiza que o projeto trata-se de uma pesquisa pré-clínica, com o objetivo de avaliar se o veneno é capaz de modular células que poderiam vir a combater doenças reumáticas e autoimunes, como a Artrite Reumatóide (AR) e Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES).
"O que nós estamos fazendo é uma pesquisa inicial com amostras in vitro da substância, estudando como os componentes presentes podem ser usados para o tratamento de diferentes doenças, a fim de provar para a classe científica que esses venenos podem modular essa célula”, afirmou.
A expectativa é de que, futuramente, o estudo possa contribuir para a criação de novos medicamentos para o tratamento das doenças.
"Visto que os neutrófilos são importantes células na exacerbação dos sintomas do processo inflamatório em doenças como Artrite Reumatóide e Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), os estudos levantam a seguinte hipótese: ‘os extratos dos gêneros Rhinella e Rhaebo modulam os efeitos inflamatórios dos neutrófilos?’", indagou a professora.
Os anfíbios são capturados em uma fazenda particular no município de Cotriguaçu (953 km de Cuiabá). A coleta do material é realizada por biólogos herpetólogos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A professora explica que o veneno é retirado de uma glândula chamada de paratóide, localizada atrás dos olhos dos sapos. "Essa glândula, quando apertada, ela solta uma ‘pasta’, que é a forma com que esse veneno se apresenta", disse.
Depois de coletado, o material é levado ao município de Sinop, onde é repassado à professora para o estudo das substâncias presentes no veneno. Após a extração do veneno os sapos são devolvidos com vida à natureza.
Albiero ressalta que, apesar de liderar as pesquisas, o projeto é desenvolvido em colaboração com os alunos do Curso Técnico em Enfermagem, em parceria com a UFMT e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCF-USP).
"O que caracteriza esse projeto de pesquisa é o envolvimento colaborativo de diferentes áreas do conhecimento em prol do avanço científico para solidificar as ações da Escola Técnica Estadual de Sinop, concernente ao desenvolvimento científico, econômico, social e ambiental da região a que o projeto se propõe abranger", disse.
A equipe de estudos conta com os pesquisadores Valfran da Silva Lima, Lindsey Castoldi, Cleni Mara Marzocchi Machado, Flávio Fernandes Barboza, Morenna Alana Giordani, Marcilei Juvenal da Conceição Horn, Valéria Dornelles Gindri Sinhorin e Adilson Paulo Sinhorin.
Dados no Brasil
Dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) apontam que cerca de 65 mil brasileiros, entre 20 e 45 anos de idade, são afetados pelo Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES ou apenas lúpus), que, entre as mais de 80 doenças autoimunes conhecidas, está entre as mais graves.
Já a prevalência da Artrite Reumatóide (AR) é estimada em 0,5%-1% da população, com predomínio em mulheres e maior incidência na faixa etária de 30-50 anos, que apesar de não haver grandes riscos, leva à diminuição da qualidade de vida.

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